Minha jornada de autoaceitação com o meu corpo
Já perceberam que tudo ao nosso redor, de alguma forma, nos deixa ainda mais inseguras? Capas de revista, influencers, familiares com expectativas irreais, comerciais, etc. Tudo parece nos deixar ainda mais descontentes com o nosso corpo. Você provavelmente já escutou alguma dessas frases: “Tem que fazer manicure sendo sua unha vai ficar feia”, “Você foi na reunião com a unha desse jeito?”, “Eu preciso passar maquiagem para sair de casa”, “Você vai sair desse jeito?”, “Essa roupa não está muito justa?”, entre outras frases. Já ouvimos muito isso na nossa vida e parece que existe pressão para nós o TEMPO TODO.
Você lembra de quando você começou a odiar seu corpo? Vou contar um pouco da minha história para vocês entenderem como nossas influências na infância podem ser bem impactantes no futuro. Pode parecer bem engraçado, mas acredito que comecei a me preocupar com meu corpo quando eu estava na 4ª série. Eu nunca comprava nada da cantina, minha mãe sempre fazia todo o dia um pão com queijo para mim porque era melhor que comer as besteiras que tinham na escola. E eu comia com gosto, porém sempre tinha alguma amiguinha que me oferecia docinhos.
Sabe o que eu respondia, no auge dos meus 10 anos? “Não posso, estou de regime”. Eu não sabia direito o que era regime, só sei que era algo que minha mãe repetia toda hora porque ela sempre parecia estar em conflito com a comida. Então para mim, era normal negar e evitar doces ao máximo.
Passou-se algum tempo, lá pelos meus 13/14 anos, eu cresci e logo apareceram as primeiras estrias nas minhas pernas. Lembro de me olhar no espelho de corpo inteiro, não entender o que eu tinha feito para merecer aquilo e olhar para aqueles arranhões gigantescos na minha perna e chorar, chorar e chorar. Me sentia péssima e acreditava que aquilo só estava acontecendo no meu corpo.
Minha relação com o meu corpo piorou na faculdade. Foi um período muito complicado para mim, por conta de um relacionamento muito abusivo. Entrei em depressão na mesma época, além disso, o psiquiatra também notou que eu tinha algo a mais, então fui diagnosticada com anorexia nervosa. Por causa da tristeza que eu estava sentindo, eu não tinha vontade de comer, tirava até sarro disso e não percebia que eu estava extremamente magra naquela época. Para vocês entenderem, eu tenho 1,70 m e eu cheguei a pesar 52 kg.
Nessa época, eu trabalhava em uma agência com um amigo muito próximo e lembro de apostar com ele um jogo do emagrecimento durante os almoços no Self Service que tinha na frente da empresa. Minha meta, pasmem com a idiotice, era chegar nos 50 kg para eu não poder mais doar sangue. É horrível imaginar que eu pensava dessa forma, eu dava muita risada disso e não entendia o quão triste eu estava. Lembro de um dia estar extremamente triste e cheguei a pagar 2,60 por uma refeição (isso para o padrão de restaurantes de São Paulo não é nada), porque não tava comendo nada e me vangloriei para meu amigo!
Eu me olhava no espelho e me via muito gorda, sinceramente me odiava muito nessa época sem perceber. Além dos absurdos que eu fazia, outra coisa que me dava muito prazer de ouvir era “nossa, como você está magra!”. Era o elogio máximo que eu podia alcançar, mas, ao mesmo tempo eu tava apodrecendo por dentro e extremamente infeliz. Sem contar que o apelido carinhoso que meu querido ex me deu foi “gorda” nessa época. Acredito que dá para entender de onde eu tirava essas noias da minha cabeça, né?
Depois de muita luta, consegui sair dessa relação abusiva, também iniciei uma jornada de autoaceitação muito maravilhosa, comecei a perceber que eu era minha melhor companhia, fui desbravar o mundo sozinha e viajei para vários países, isso também me ajudou a redescobrir e voltar a ter mais carinho com meu corpo. Lógico que não foi fácil, mas hoje em dia peso uns 10 kgs a mais do que aquela época, sou MUITO mais feliz, mais madura e segura do que eu quero. Ainda não estou 100% (também acho que ninguém é extremamente feliz com o seu corpo o tempo todo), mas me sinto muito mais livre disso!
Porque a gente tem esse pensamento gordofóbico de que a coisa mais horrível que pode nos acontecer é engordar? Qual o problema nisso? Lembro quando a quarentena começou e muitos memes e pessoas estavam falando sobre os seus corpos com fotos antes e depois. As pessoas estavam expressando muita culpa de estar comendo (aparentemente) mais durante esse momento tão difícil. É sério que essa é a maior preocupação que as pessoas têm durante a pandemia?
Bom, o que podemos fazer para tentar driblar esse sentimento de ódio aos nossos corpos? Uma coisa que me ajudou foi seguir modelos e influencers que tinham um corpo mais parecido com o meu, ou que não se encaixavam no padrão de beleza. Quanto mais a gente se rodeia de exemplos positivos, melhor para nossa saúde mental e autoestima.
Outro ponto é que: é impossível estar bem com você todos os dias! Ninguém é tão feliz assim e tá tudo bem acordar não se sentindo bem com você. O que a gente precisa aprender, na minha opinião, é se aceitar. E quando você aceita o seu corpo, é um caminho sem volta (e maravilhosooo).
Tem uma frase que eu amo e faz muito sentido: “nada mais assustador do que uma mulher livre”. Então, libertem-se dessas pequenas coisas que podem se transformar em sofrimentos por nenhuma razão. A vida é muito curta para não se amar! Você passar a vida se odiando ou se aceitar? Essa é uma escolha que só você pode tomar!